quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A nada ridícula jogada de Amorim

Diplomacia. como as vinganças, é um prato que se deve experimentar com frieza. Os tempos da diplomacia, como gostava de lembrar o ex-ministro Celso Amorim, são mais extensos. Por isso, qualquer avaliação feita agora, no calor da hora, sobre os resultados da viagem do ministro Celso Amorim ao Oriente Médio têm o vício da estabanação.

É compreensível que ex-diplomatas com extensa contribuição para as relações externas brasileiras e intensa militãncia partidária façam caretas para o desembaraço de Amorim. No governo FHC reinava a avaliação de que o Brasil, por não dispor dos recursos de poder das grandes potências, deveria posicionar-se em um tabuleiro já montado por esses grandes países.

Poderia, em alguns casos, até arrancar algum proveito, interferindo no jogo pontualmente, como na espetacular vitória na reunião de Doha, na OMC, em que o país arrancou um acordo sobre medicamentos e comércio favorável à produção de genéricos. (Note-se que o maior impulso a essa batalha veio do ministério da Saúde, então nas mãos de José Serra).

No governo Lula, há a pretensão de uma "nova geografia comercial", que na pratica coincide com os interesses de grande parte das empresas brasileiras com projetos expansionistas, e há uma convicção de que o país tem condições de ter influência decisiva em decisões do sistema internacional, desde que se garanta um mecanismo multilateral de descisões. Daí a importãncia conferida a ganhar um assento no Conselho de Segurança a ONU, a criação do G-20 na OMC (com países que se opõem as propostas dos EUA e da Europa para comércio agrícola) e a ativa participação no G-20 financeiro (o grupo de maiores economias mundiais que ganhou significância com a desmoralização dos grandes centros capitalistas nessa crise financeira mundial).

Não é o caso de fazer uma defesa da política externa do governo. Mas não há como não se notar que Lula é um interlocutor respeitado na esfera internacional, com trânsito fácil até entre governantes conservadores como Sarkozy, na França, Bush, nos EUA, e Uribe, na Colômbia. Rival evidente do venezuelano Chávez na disputa por hegemonia nas esquerdas sul-americanas, é tratado com respeito (pelo menos publicamente) pelo suposto adversário, que não o confonta abertamente. Do ponto de vista da diplomacia, que dá valor as manifestações simbólicas e às reuniões _ às vezes mais que aos resultados práticos _ Lula é um êxito diplomático. Só não v~e quem olha para ele com o fígado.

A visita ao Oriente Médio, além de contribuir para firmar a imagem de país importante, com peso político no mundo, abre portas ao país na região. Israel não pode se dar ao luxo de desprezar os contatos com um país ativo politicamente no sistema das Nações Unidas, com grande e influente comundiade judaica, capaz, apesar da franca simpatia com a causa palestina, de defender posições como a condenação ao terrorismo do Hamas e a pressão moral sobre o Irã. Os países árabes serão gratos pelo ativismo brasileiro em favor do estado palestino.

Claro, tudo isso tem de ser matizado pela pequena presença real do Brasil na região, e pela relativa insignificância do país no pesado jogo geopolítico que se trava naqueles territórios cheios de petróleo, com água escassa, na fronteira em que se batem interesses árabes laicos, o islamismo crescente e os interesses das potências ocidentais.

O custo orçamentário da viagem de morim é inferior ao que se gasta anualmente com viagens "de trabalho" de parlamentares aos EUA (das quais nunca se vê um relatório que seja), para ficar só em um exemplo de desperdício de verbas que nunca foi criticado pelos atuais inimigos da política externa lulista.

Em qualquer hipótese, as teses do ex-embaixador Lampreia, de que os mandatários da região ficaram de saco cheio com as visitas de Amorim, ou de que essas viagens beiraram o ridículo, não ganharam muito eco na cobertura da imprensa internacional nem foram acompanhadas de alguma evidência.

Se o Brasil for chamado a opinar, ou se qualquer consequência política, comercial ou financeira vier dessa iniciativa, o Itamaraty, o Planalto e o país lucram. (algo que só será visto no futuro nem tão próximo),

Se nada acontecer, tudo que o governo brasileiro terá perdido é uma viagem.


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Sobre a imagem do Brasil no resto do mundo, sugiro a leitura desse artigo AQUI, esse AQUI