sexta-feira, 11 de abril de 2008

A declaração extraída à bala


O ministro da Defesa, Nélson Jobim, participou de uma audiência pública, de três horas, e deu uma entrevista coletiva, de duas horas nesta semana, falando da estratégia de defesa preparada pelo governo. Falou para os parlamentares sobre os cenários de defesa e citou a hipótese de invasão da Amazônia. Foi o mote para que repórteres, na coletiva, insistissem com perguntas sobre o temor do governo em relação a uma possível invasão das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, os guerrilheiros das Farc, assunto que nem de longe fez parte da longa e detalhada explanação de Jobim sobre seus planos para as Forças Armadas.

Jobim explicou que não se tratava de prevenção contra nenhuma ameaça em particular, e que não estava se referindo às Farc. Não agradou, os jornalistas queriam declaração sobre esse tema quente. Já na saída, depois de ter se esquivado do assunto com a obstinação de um soldado de infantaria, foi abordado por mais um repórter, que insistiu: "mas ministro, precisamos saber, como as Forças Armadas vão receber as Farc se elas invadirem o Brasil? Com cara de enfado (saco cheio, no jargão militar), Jobim cedeu:

"À bala. Tá respondido".

Manchete de página em um jornal no dia seguinte: "Jobim diz que Brasil receberia as Farc à bala". E citava as informações que Jobim deu sobre a proteção militar às fronteiras amazônicas, dando a impressão que ele se referia à proteção contra os guerrilheiros. No outro dia, outro jornal incorporou-se ao factóide: o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia, "minimizou" as declarações de Jobim, dizia a notícia.

Essa hipertrofia do fato praticada no jornalismo contemporâneo já me rendeu um post, em meu outro blogue. Minha impressão é de que, cada vez mais, o noticiário sobre certos assuntos deveria vir acompanhado de um adendo, com o contexto das declarações das autoridades. Se não for por outro motivo, por pena dos historiadores do futuro.

quinta-feira, 10 de abril de 2008

O tamborete de Chávez

Eu matutava sobre o porquê de o Chávez não ter nunca mais falado do ambicionado Banco do Sul, planejado para reunir Argentina, Venezuela, Bolívia, Brasil e companhia. Chegou então ao meu e-mail esse informa do site Notícias do Planalto:

O banco da Alternativa Bolivariana para a América (Alba) entrará em funcionamento a partir do próximo dia 25. O anúncio foi feito pelo ministro venezuelano de Indústria Básica e Mineração, Rodolfo Sanz, durante reunião da Comissão de Mesas Técnicas da Alba, realizada no último final de semana em Caracas. A Alba é um instrumento de integração firmado entre Bolívia, Cuba, Nicarágua, República Dominicana e Venezuela.
O bloco não visa apenas relações comerciais, mas também, ações que reduzam os contrastes sociais na América Latina. De acordo com Sanz, os primeiros projetos a serem financiados pelo banco serão nas áreas de telecomunicações, agricultura e indústria de alimentos e medicamentos.
Já estão previstas a criação de cinco empresas da Alba, chamadas de gran-nacionais, e dez projetos de caráter social.Sanz destacou a criação da empresa na área de telecomunicações que irá atuar nos cinco países. Segundo o ministro, a empresa já está quase pronta e servirá para se contrapor a um dos principais monopólios que sustenta o capitalismo. A próxima reunião da Alba acontecerá na capital de Cuba, Havana, e definirá a composição da diretoria do banco.

Chávez tem um problema, em seus esforços para financiar ações e investimentos de governos aliados. Essas ações pegam mal pacas, na opinião pública venezuelana, que vê a enorme carência de infra-estrutura no país, e gostaria de ver todo o dinherio dos petrodólares venezuelanos gasto no país. No auge das pressões de Chávez pelo Banco do Sul, com Argentina e Bolívia, de início, me disseram que a idéia era uma maneira encontrada por Chávez de encaminhar esses petrodólares, mas sob a capa de uma instituição financeira, sediada na venezuela, com prestígio de banco multilateral.

A geladeira em que foi posto o Banco do Sul e a celeridade com que se fez esse Banco da Alba me dá forte impressão de que a tese acima é verdadeira.