O ministro da Defesa, Nélson Jobim, participou de uma audiência pública, de três horas, e deu uma entrevista coletiva, de duas horas nesta semana, falando da estratégia de defesa preparada pelo governo. Falou para os parlamentares sobre os cenários de defesa e citou a hipótese de invasão da Amazônia. Foi o mote para que repórteres, na coletiva, insistissem com perguntas sobre o temor do governo em relação a uma possível invasão das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, os guerrilheiros das Farc, assunto que nem de longe fez parte da longa e detalhada explanação de Jobim sobre seus planos para as Forças Armadas.
Jobim explicou que não se tratava de prevenção contra nenhuma ameaça em particular, e que não estava se referindo às Farc. Não agradou, os jornalistas queriam declaração sobre esse tema quente. Já na saída, depois de ter se esquivado do assunto com a obstinação de um soldado de infantaria, foi abordado por mais um repórter, que insistiu: "mas ministro, precisamos saber, como as Forças Armadas vão receber as Farc se elas invadirem o Brasil? Com cara de enfado (saco cheio, no jargão militar), Jobim cedeu:
"À bala. Tá respondido".
Manchete de página em um jornal no dia seguinte: "Jobim diz que Brasil receberia as Farc à bala". E citava as informações que Jobim deu sobre a proteção militar às fronteiras amazônicas, dando a impressão que ele se referia à proteção contra os guerrilheiros. No outro dia, outro jornal incorporou-se ao factóide: o assessor de Lula, Marco Aurélio Garcia, "minimizou" as declarações de Jobim, dizia a notícia.
Essa hipertrofia do fato praticada no jornalismo contemporâneo já me rendeu um post, em meu outro blogue. Minha impressão é de que, cada vez mais, o noticiário sobre certos assuntos deveria vir acompanhado de um adendo, com o contexto das declarações das autoridades. Se não for por outro motivo, por pena dos historiadores do futuro.
4 comentários:
Meu caro, Sergio,
este post será um desses adendos.
Obrigado pela informação.
Que coisa, tantas ameaças e neguim quer factóide sobre as FARC...
Impressionante a ignorância dos jornalistas em geral sobre os assuntos continentais, não?
Eu sempre falo pro pessoal (todo mundo): não acredite na imprensa, use o jornal apenas para checar o horário do cinema e conhecer a opinião dos donos...fato mesmo, tem muito pouco.
E Fagundes...a ignorância dos jornalistas é geral, não é só sobre os assuntos continentais.
Olá, Sergio,
Se não viu, o artigo sobre Itaipu repercutiu lá:
http://www.abc.com.py/articulos.php?pid=406804&fec=2008-04-15
abs!
Postar um comentário