quarta-feira, 5 de março de 2008

Enquanto isso, na matriz...

Confesso envergonhado a falta de empenho deste blogue em comentar os desdobramentos das primárias nas eleições norte-americanas. Mas é que perderia na comparação com o excelente trabalho sobre o assunto que vêm fazendo dois amigos e blogueiros lendários, o Idelber Avelar , AQUI, e o Pedro Dória, AQUI.

Do Dória:

"Em 1984, as prévias democratas foram também apertadas assim. O veterano senador Walter Mondale e o novato Gary Hart disputaram por meses, até que Mondale lançou o anúncio do telefone. Exatamente o mesmo anúncio que Hillary usou agora. O tom apelativo de, na crise, ‘quem você quer atendendo este telefone?’, é um clichê eleitoral norte-americano. A experiência decidiu a candidatura naquele ano. Mondale era o veterano, afinal.

Seu problema é que, depois de convencer os eleitores de que segurança era a questão mais importante da eleição, Mondale teve de enfrentar Ronald Reagan que concorria à reeleição. E, se segurança era importante, dados Mondale e Reagan, ficaram com Reagan. É o risco que Hillary corre. Pode convencer os eleitores de que segurança é um assunto primordial e que, perante Obama, melhor que seja Hillary. Mas aí, à frente, terá que enfrentar John McCain, um herói de guerra."


Do Idelber:

"3.Com o quatro atual, estamos naquela situação imortalizada por Luis Fernando Veríssimo em seu O Analista de Bagé: ninguém sai, ninguém sai. A única possibilidade realista de que alguém abandone a corrida é que Obama vença Hillary na Pensilvânia, que é a terra natal da senadora e o único estado realmente grande com primárias programadas. Elas acontecerão no dia 22 de abril. Se Obama vencer lá, volta a pressão para que ela abandone. Se não, a coisa talvez se arraste até a convenção. Os republicanos, claro, vão adorar. Antes da Pensilvânia, votarão Wyoming, no dia 08 de março, e Mississippi, no dia 11, ambos Obamaland.

4.Obama tem que aprender a dar umas caneladas. Não precisa abdicar de seus princípios éticos, mas algum tipo de reação mais dura aos ataques negativos ele terá que elaborar. Nesta semana, Hillary chegou a declarar: eu trago uma experiência de vida; John McCain traz uma experiência de vida; Barack Obama faz discursos. Imagine quantas vezes os republicanos vão tocar esse clip na eleição geral, caso se confirme a candidatura de Obama. "


Sei não, tenho acordado com a incôndita sensação de que os EUA, nos anos que se seguem, serão governados por um homem, branco, e republicano.

***
Em tempos de guerra, a primeira vítima é a verdade, já dizia o outro. Por isso confio desconfiando do noticiário sobre a briga Venezuela- Colômbia- Equador- Farc. O noticiário diz que os colombianos se regozijam com o fato de que foi um telefonema de Chávez ao segundo homem das Farc, Raul Reyes, que permitiu a ação militar encerrada com o massacre de guerrilheiros, entre eles, o próprio Reyes, em território equatoriano.

Se for verdade, isso confirma a tese de que não houve uma reação a ataque da guerrilha, e sim uma deliberada missão de trucidamento de um grupo das Farc. Coincidentemente, com a morte de um dos guerrilheiros mais identificados com a face moderada da guerrilha, o interlocutor para negociações de paz e liberação de reféns. Coisa bacana para quem acredita que não há saída negociada com as Farc e que seus integrantes devem ser dizimados, a qualquer custo. Troço chato para quem esperava empenho do governo colombiano pela sobrevivência dos reféns e acreditava no interesse de Uribe em alguma negociação.

5 comentários:

Maurício Santoro disse...

Olá, Sergio.

Em meio à crise sul-americana, fiquei mesmo bem distraído com relação aos EUA. Para piorar, tenho vários amigos (e uma ex-estagiária) no grupo dos 30 brasileiros detidos no aeroporto de Madri. Que semaninha!

A história do telefonema do Chávez, se verdadeira, é mesmo tremenda ironia. Mas me parece que o padrão dos colombianos está muito definido. Eles estão refinando os ataques e indo atrás das lideranças das FARCs. Tinha começado há alguns meses, quando mataram ou prenderam uma série de "coronéis" da guerrilha, o mais famoso foi El Negro Acácio. E agora matam Reyes...

Li o livrinho com a carta da Ingrid Betancourt para a família. Muito bonito, e muito triste. Tá resenhado lá no blog.

Abraços

Sergio Leo disse...

Grande Maurício, essa arbitrariedade do gocverno espanhol é um escândalo. Vou escrever sobre o assunto, acho que cabe uma reação pela blogosfera afora...
Recomendo aos frequentadores a resenha lá no http://todososfogos.blogspot.com . Como sempre, de excelente qualidade...

Anônimo disse...

Totalmente absurda essa situação no aeroporto de Madri. Eles alegam que a pessoa tem que ter dinheiro...onde já se viu andar com dinheiro hoje em dia. Eu viajo com trocados para café. Afinal, tenho dois cartões de crédito internacionais e posso sacar direto do meu banco na hora em que precisar de mais cash. Outra coisa, por que tenho que ter reserva para hotel? Não posso ficar na casa de amigos? So porque sou do brasil não tenho amigos? E se eu quiser viajar - alias, como sempre faço - sem lenço e sem documento - ficando no hotel que me der na telha?
Isso é um absurdo, o governo brasileiro está fazendo corpo mole, daqui a pouco os outros países da UE vão fazer o mesmo. Tem que impedir a entrada de espanhol no Brasil. Reciprocidade já. É a única coisa que eles entendem. Enquanto isso tem um monte de espanhol ganhando as burras com terras do litoral nordestino, construindo hoteis horrorosos nas nossas praias e investindo zero em saneamento, transporte, etc. Não acho que devemos ser moderados nisso não. Acredito que a Reciprocidade é uma ferramenta legítima para manter um mínimo de respeito nas relações internacionais.
aiaiai

Sergio Leo disse...

está lá no Sítio do Sergio leo, aiaiai, minha opinião sobre o tema. Concordo contigo; só um detalhe: os países da UE já fazem coisa parecida, especialmente a Inglaterra, mas não no volume e na discricionaridade com que a espanha vem fazendo. Em parte, reflexo do aumento de migrantes que entram na Europa pela Península Ibérica. Acho que o Itamaraty não vem fazendo corpo mole não; os diplomatas do topo lá em Madri, o Gelson Fonseca e o José Viegas são dos mais preparados e respeitáveis que há na casa, e fizeram bem em botar a boca no trombone. Mas há limites, a reação tem de vir mesmo do povo brasileiro. Dê uma olhadinha lá no Sítio, e me diga o que acha. www.sergioleo.blogspot.com. abração.

Patrick disse...

Por outro lado, como não há horário eleitoral gratuito nos EUA e este país é a sociedade da mídia por excelência, essa novela das primárias democratas pode vir a ser muito proveitosa. Imagine o retorno de ter seu/sua candidato(a) exposto por meses a fio na mídia enquanto o outro (McCain) é relegado por falta de notícias.