Jean Ziegler, o relator da ONU para o direito da alimentação, está mais sóbrio em suas relações com o álcool brasileiro. Crítico severo do uso de biocombustíveis, ele há pouco tempo incluía o programa do álcool brasileiro entre os vilões que estão ameaçando a produção mundial de alimentos com plantações destinadas a mover automóveis. Agoram, mudou. O álcool brasileiro é sustentável e não ameaça, garante ele.
O argumento para essa virada radical eu li na Folha, segundo a qual, Ziegler diz ter estudado mais o assunto, conversado com o governo brasileiro e mduadod e opinião. O fato é que houve uma pressão violenta da diplomacia brasileira. E que, pelo jeito, os argumentos de Ziegler estavam mais fundados nas cartilhas de preconceitos do terceiro setor que em convicções cimentadas pelo conhecimento profundo do tema.
Por essas e outras, a esquera perde credibilidade como interlocutor. Há algum tempo fiz uma resenha ligeira, para o Valor, do livro do Eric Toussaint, sobre a necessidade de moratória da dívida externa inclusive no Brasil. Ao lado de bons relatos históricos e sugestões sensatas, havia uma coleção de propostas principistas, paranasianas, doutrinárias, sobre o que os países emergentes deveriam fazer com as dívidas _ sem muita atenção para as conseqüências financeiras e políticas de algumas das ações propostas.
Esse discurso doutrinário tem o mérito de se contrapor às doutrinas também dogmáticas dos liberais _ que, por exemplo, são incapazes de sair em defesa dos migrantes contra as atitudes xeníofibas dos países desenvolvidos (o liberalismo nesas horas sempre esquece que a teoria de Adam Smith e de David Ricardo preconizava livre movimentação de TODOS os fatores de produção, inclusive a mão de obra, para a qual não deveria haver barreiras).
Mas o discurso meramente ideológico tem dessas desmoralizações. Um dia o sujeito resolve estudar o mundo real, verificar as condições pragmáticas de execução de certas políticas, e é obrigado a desdizer o que disse. Ou o intelectual Ziegler é capaz de falar qualquer coisa para não perder o emprego?
quarta-feira, 12 de março de 2008
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2 comentários:
Bom, pelo menos há de se louvar a humildade de alguém que muda de opinião publicamente e admite que estava mal informado...
Obrigado pelo blog!
Mas o feijão com arroz (milho) dos centro-americanos está encarecendo, isso é um fato.
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