terça-feira, 18 de dezembro de 2007

O que andam bebendo os uruguaios?

O que você diria se fosse uma moça casada e seu marido reivindicasse uma alteração no contrato de casamento para pedir em namoro a Juliana Knust? É mais ou menos a sensação que os diplomatas brasileiros devem ter ao ouvir o Uruguai, pela tricentésima vez, pedindo mudança no Mercosul para poder firmar acordo de livre comércio com os Estados Unidos. A Juliana dificilmente olharia para seu marido, não é mesmo? Muito menos os americanos estão muito interessados em baixar as tarifas de importação para a carne, os vinhos e os tecidos urugaios.

Estivesse eu no vetusto Itamaraty, perguntaria aos uruguaios: que Estados Unidos, compañero? Aquele país que, no ano que vem, será governado por um presidente fraco em fim de mandato, que não consegue sequer aprovar no Congresso o acordo já firmado com seu aliado de fé na região, a Colômbia? Os Estados Unidos que têm forte chance de ter como presidente um democrata, partido com dois candidatos, Hillary Clinton e Barak Obama, contrários ao acordo com os colombianos?

O que o Uruguai faz é chantagem, e está lá no seu direito, quando a alfândega brasileira inventa moda para barrar água mineral uruguaia e a Argentina bloqueia pontes porque não quer investimentos em fárbicas de celulose no vizinho. Seria uma grande desmoralização para os atuais governos brasileiro e argentino, que tanto anunciam a integração sul-americana, assistir à saída do Uruguai do Mercosul. Seria também uma tarefa bem complicada ao uruguai convencer algum futuro parceiro num acordo comercial a fazer concessões importantes para ganhar acesso ao espetacular mercado consumidor uruguaio.

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A propósito da Hillary, que não apenas se opõe, ela bloqueia mesmo o acordo no Congresso, o Robert Haussman, ex-Banco Mundial, escreve coisas interessantes no blogue do Dani Rodrik, economista imperdível para quem acompanha comércio internacional. Para que lê em inglês, AQUI.

(É divertidíssimo acompanhar esse debate nos EUA: os democratas alegam que o bloqueio ao acordo com a Colômbia se deve apenas ao desrespeito aos direitos humanos no país. Há quem acredite. Mas nunca vi uma campanha dos democratas pelo respeito aos direitos humanos na Arábia Saudita, uma conhecida ditadura familiar.)

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