terça-feira, 1 de janeiro de 2008

Deu xabú nas FARC

Terminou mal o ano para Hugo Chavez _ para não falar no Marco Aurélio Garcia, obrigado a passar o reveillon num fim de mundo colombiano, e na companhia de Néstor Kirchner e Oliver Stone. Depois de chamar meio mundo para a cidadezica de Villavicencio, e garantir que, em pouco tempo, três reféns seriam libertados pelas FARC, Chávez teve de dispensar a moçada e, como noiva abandonada no altar, avisar à turma que não, daquela vez não haveria festa.

Transformou-se em episódio de histrionismo vazio o que seria uma espetacular jogada de marketing, capaz de nublar o fiasco tectônico do venezuelano no plebiscito para a reforma da Constituição do país dele.


É intrigante o resultado pífio do espetáculo montado em Villavicencio. Faz sentido imaginar, como acusou Chávez, que o presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, teve uma dose de culpa no fracasso, por criar insegurança entre os guerrilheiros(terroristas? narcotraficantes?) das FARC, medo de que seriam rastreados e capturados caso se aproximassem do local de entrega dos reféns. Afinal, as FARC e Chávez teriam muito a ganhar com o êxito da operação; já Uribe sairia mal, rebaixado a figurante da novela encenada pelo venezuelano. "Novela" é como o estadão de hoje define os rumos que tomaram a liberação dos reféns, com a notícia do governo colombiano de que o menino Emmanuel, um dos seqüestrados (na verdade, filho da sequestrada Clara Rojas com um guerrilheiro) estaria fora do alcance das FARC, num hospital, em más condições de saúde.

Nos próximos dias será possível saber a que novela estamos assitindo, e qual o papel de cada um no enredo. Mas é possível sacar algumas conclusões, entre elas a de que Chávez é, hoje, um político desmoralizado, e agora será necessário mais que a liberação dos três reféns para lhe garantir os frutos políticos que esperava da operação.

As FARC mostram estar acuadas, são hoje um anacronismo e sabem disso.~A esquerda chegou ao poder, após concessões, claro, em vários países da América Latina; não há mais grupos guerrilheiros na América do Sul, fora da Colômbia, e a relação com os narcotraficantes mina por dentro a estrutura da guerrilha, seus objetivos e estratégias. Analistas políticos simpáticos a Uribe já sugerem que o mandatário colombiano deixe de teimosia e faça uma concessão, abrindo uma área desmilitarizada, com observadores internacionais, para obrigar a FARC a reabrir negociações sobre os reféns e sobre um eventual desarmamento, o que tende a acirrar as contradições entre os grupos da guerrilha.

Não é uma situação fácuil para as FARC. Conmo lembram conselheiros de Lula com profundos conhecimentos sobre a esquerda latino-americana, o último grupo guerrilheiro que se desarmou na Colômbia e incorporou-se à vida política normal, o MIR, teve seus principais membros trucidados em atentados políticos. A Colômbia mudou muito a imagem, e é um país bem menos violento, aprazível até. Mas a vida política, lá, ainda não passa por um teste de maturidade. Chávez não parece ser o melhor guia para se atravessar esse teste.

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