terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Quando o capitalismo necessita do Estado

O Hermenauta é, na blogolandia, o analista que mais se assemelha aos bloggers dos EUA, um cricri decidido a desmascarar fraudes no mundo da informação da imprensa consolidada, e trazer novos fatos e análises à discussão pública.

Seria quase inevitável que, com essa disposição, ele encontre assunto fácil em certos analistas muito populares, tão arrogantes quanto ignorantes das complexidades do mundo real. Estou falando, claro, de gente como o Reinaldo Azevedo, um dos sujeitos mais cultos de que tive notícia, infelizmente cegado por uma espécie de aneurisma ideológico. A última cravada na ferradura do Reinaldo eu não resisto a reproduzir, na íntegra:


Tio Rei hoje comenta notícia do Estadão sobre os problemas do Citi. Primeiro, a notícia:
“O Citigroup, que perdeu a primeira posição no ranking de bancos americanos pelo critério de valor de mercado para o Bank of America, anuncia hoje seus resultados relativos ao quarto trimestre de 2007. A ansiedade entre investidores e analistas é grande, pois a instituição perdeu muito dinheiro com a crise das hipotecas de alto risco (subprime).“
Agora, o comentário:
“Comento(…)Perdas dessa magnitude acontecem onde vigora o capitalismo com lei.“
Errado, Tio. Como vimos ontem, perdas dessa magnitude acontecem onde existe capitalismo sem lei.
Aliás, continuando a notícia do Estadão…
“O ‘Wall Street Journal’ relatou que o China Development Bank poderá investir cerca de US$ 2 bilhões no Citi, apesar de o governo do país estar dividido quanto à aplicação. O britânico ‘Financial Times’, por sua vez, deu conta de que o Kuwait Investment Authority poderá injetar até US$ 3 bilhões na instituição.“
Não admira que o Financial Times de hoje venha com a seguinte matéria (infelizmente, o resto está atrás do registerwall do FT, mas tem uma cópia livre aqui):
“The unsettling zeitgeist of state capitalism
How can it be that Merrill Lynch, Citigroup, Morgan Stanley, Bear Stearns, UBS and other big banks have been turning to foreign governments for financial lifelines with so little public controversy? Perhaps it is because the dangerous broader context of what is happening – the rise of “state capitalism” – is not sufficiently recognised. Indeed, the reality may be that the era of free markets unleashed by Margaret Thatcher and reinforced by Ronald Reagan in the 1980s is fading away. In place of deregulation and privatisation are government efforts to reassert control over their economies and to use this to enhance their global influence. It is an ill wind that blows.“
Para não ficarmos nessa história de que isso é coisa de país atrasado, é bom notar que o RGE já cantou a pedra de que o mercado de hipotecas nos EUA já foi, efetivamente, nacionalizado.
Quando a regulação é mal-feita ou inexistente, entra em ação o Estado como emprestador de última instância _ situação onde o gasto público é até superbemvindo… A despeito disso, as matracas do livremercadismo como o Reinaldo Azevedo chegam a comparar, por exemplo, o mercado de planos de saúde com o de esfihas, que é muito semelhante ao de empadas. Isso só se justifica ou por ignorância terminal ou por uma vontade irrefreável de botar azeitona na empada de algum anunciante da Veja.

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