quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Ainda Chávez, o futuro invasor da Guiana


Há um problema com a tese de que Chávez provoca uma corrida armamentista no continente. Aliás, dois problemas. O Brasil começou muito antes a armar-se, e tem Forças Armadas com melhor equipamento que os do venezuelano. E Chile, com o Brasil, superam a Venezuela em gastos militares.

Aos poucos, a inconsistência dessa acusação vai enfraquecendo o alarma da corrida armamentista, alimentado por militares brasileiros em lobby por mais verbas. E aí, inventaram a mais recente preocupação: uma possível invasão de Chávez na Guiana, país com o qual a Venezuela têm conflitos de terra. Se a Bolívia tivesse Exército dignio do nome, provavelmente estariam falando em uma iminente invasão boliviana no Chile, para recuperar o litoral perdido aos chilenos.

O Estadão, há alguns dias, mandou até correspondente _ o excelente Lourival Santanna, por sinal _ para cobrir uma escandalosa invasão de tropas venezuelanas na fronteira com a Guiana. O tema é quente na imprensa guianense, e, se não fosse por Chávez, ficaria restrita àquele país. Não consigo imaginar o estadão mandando correspondente para cobrir o conflito de fronteira entre Peru e Equador, resolvido anos atrás com a mediação do Brasil.

A tal invasão é um incidente típtico de fronteira, e da crônica policial: militares venezuelanos, ao se depararem com garimpeiros clandestinos, explodiram as balsas dos bandidos.
Na região amazônica, é difícil dizer em que lado da fronteira estavam uns e outros, mas não é improvável que os milicos de Chávez tenham mandado às favas a ,llinha de fronteira e perseguido os garimpeiros até onde puderam. Comparar isso a uma ameaça de Chávez à integridade territorial da Guiana pode ser até realismo fantástico, coisa a que a América Latina está acosumada. Mas não é jornalismo; confio no Lourival para esvaziar esse factóide.

O noticiário ( e o mundo político) anêmico de demonstrações bélicas realmente sérias de Chávez, agora se aferra à tese de que ele pode invadir a Guiana para tomar o território reclamado pela Venezuela, e, nesse caso, o Brasil seria desmoralizado, porque teria de tomar uma atitude. O curioso dessa tese é que ela é defendida pelos mesmos que criticam o ativismo regional do Itamaraty e defendem que o Brasil deveria se concentrar nos assuntos internos, priorizar relações com os países desenvolvidos, e esquecer para lá o terceiro mundo _ do qual a Guiana é membro nato.

Ora, e se Chávez invadir a Guiana?

Isso foi apontado hoje até como motivo para recusar o ingresso da Venezuela no Mercosul. Como membro do Mercosul, a Venezuela teria um compromisso internacional a mais para abster-se de incursões bélicas no continente (aliás, como signatário do acordo de Ushuaya no Mercosul, a Venezuela estaria obrigada a manter a democracia e seria excluída automáticamente se tentasse o contrário _ um golpe militar no paraguai já foi abortado graças a esse acordo).

Mas o que o Brasil fará se Chávez invade a Guiana? Ora, condenará veementemente a ação. Creio que nem o Samuel Pinheiro Guimarães ou o Marco Aurélio Garcia cogitariam coisa diferente. E, se a Venezuela pertencer ao Mercosul, terá ainda maior legitimidade e instãncias para pressionar Chávez a um recuo. Quem tem medo dessa improvavel hipótese deveria defender a entrada da Venezuela no bloco, não o contrário.

Não se apontam essas inconsistências, no noticiário sobre a Venezuela e a tal corrida armamentista. Uma pena. E não entendo como, se estão tão preocupados com os imensos recursos minerais do território guianense cobiçado por Chávez, certos jornalistas e políticos não se perguntam o que está fazendo a Petrobras que não procura a Guiana para explorar esse tesouro.

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